Projeto de Tese de Doutoramento
Oratura em São Tomé e Príncipe: Representações da Revolta de Escravizados de 1595
Orientação: Catarina Martins
Programa de Doutoramento: Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Partindo do pressuposto de que a oratura é um corpo de saberes gerado em contexto de luta epistémica, proponho-me, com o presente projecto, construir uma cartografia da oratura em torno da Revolta de Escravizados de 1595, em São Tomé e Príncipe, a partir de "corpos de oratura" da população são-tomense - das suas performances, memórias e pós-memórias, e sobre a forma como estas representam e reconfiguram esse episódio histórico, através de corpos-arquivo e corpos-narrativa.
O meu objectivo passa pela identificação e análise de saberes que desafiem ou tornem visíveis as "heranças" coloniais que se estabelecem pelas múltiplas fronteiras identitárias e relações de poder construídas pelo colonialismo, nomeadamente as abissalidades raciais, étnicas, de género e de classe que poderão persistir no país até aos dias de hoje.
Parto dos estudos performativos, da african sage philosophy, das literaturas pós-coloniais e das epistemologias do Sul enquanto bases teóricas, para deter-me na pesquisa de documentação histórica (literária, dramatúrgica, cinematográfica, entre outras), na observação de rituais do quotidiano e manifestações memorialísticas são-tomenses, na dinamização de "espaços de oratura" e na recolha de testemunhos e entrevistas sobre este evento.
O meu interesse pela Revolta de Escravizados de 1595 prende-se com a forma como as histórias do quotidiano, boatos, anedotas, provérbios, contos, canções, mitos, lendas, orações, hinos, rimas, lamentos, adivinhas, e outras formas de oratura, poderão transportar narrativas, memórias e representações individuais e colectivas sobre este acontecimento que nos diz imenso sobre sementes históricas de resistência do país, no seu cruzamento com Portugal, Angola e outras geografias.