Teses Defendidas

O Papel do Orçamento Participativo na Promoção de Desenvolvimento Urbano em Moçambique (tese em inglês)

Saide Jamal

Data de Defesa
11 de Julho de 2018
Programa de Doutoramento
Human Rights in Contemporary Societies
Orientação
Maria Paula Meneses e Giovanni Allegretti
Resumo
O atual processo de democratização em Moçambique deve ser visto na sua relação com os inúmeros mecanismos de consulta e participação pública nas deliberações locais, visíveis num processo eleitoral baseado no indivíduo, nas negociações e discussões dos planos de desenvolvimento e os respetivos orçamentos. Há evidências na literatura que comprovam que os mecanismos de governação participativa contribuem diretamente para o aperfeiçoamento da democracia local nas cidades e municípios que os implementam. Consequentemente, a sua adoção e implementação tem sido expressiva em vários países, particularmente naqueles em vias de desenvolvimento. Contrariamente ao que se passa com a democracia local, o orçamento participativo na sua dimensão do direito à cidade, é um aspeto ainda pouco explorado e estudado (Cabannes & Delgado 2015; Chigbu et al. 2017). O orçamento participativo é crucial para a forma como a descentralização contribui para a promoção de duas questões dos direitos humanos pertinentes nesta tese - direito à cidade e os respetivos direitos a planificação e desenvolvimento urbano. O objetivo desta tese de doutoramento é o de examinar, através dos orçamentos participativos, o papel social, económico e político dos cidadãos e dos diversos atores locais, na proteção e promoção do direito à cidade, à democracia local, ao desenvolvimento urbano e ao bem-estar social em Moçambique. As questões aqui discutidas levam-nos a questionar diversos conceitos e modelos, desde a perspetiva social e económica ao relacionamento político dos atores envolvidos. Nestes termos, pretende apurar-se de que modo o direito à participação nas questões locais é promovido e concedido a partir de inovações democráticas ascendentes (dos cidadãos em relação ao estado), e a sua interação com os mecanismos do estado (em relação aos cidadãos). Deste modo, recorre-se à uma abordagem baseada nos modelos transnacionais de participação cidadã concebidos por Sintomer et al., (2012; 2013) e a escala de participação de Arnstein (1969), para descrever o grau de envolvimento dos cidadãos nos planos municipais e nos orçamentos participativos. Entretanto, foram conduzidos dois estudos de caso, a saber: a participação cidadã nos planos de desenvolvimento urbano no município da Maxixe no sul, e nos orçamentos participativos em Quelimane, no centro de Moçambique. Para os objetivos desta tese e a metodologia aqui proposta, a pesquisa consistiu em recolha de dados secundários e primários obtidos através da pesquisa-ação participativa, com o objetivo de apurar o papel dos atores locais de desenvolvimento e o grau do seu envolvimento nas questões locais em Maxixe e Quelimane. Para tal, observaram-se as dinâmicas locais através de participação em reuniões de consultas públicas. E, na sua analise, recorreu-se a teoria fundamentada nos dados do estudo de caso. Deste modo, o estudo conclui que, apesar do grande potencial emancipador dos orçamentos participativos em Moçambique e as ações objetivas de promoção do engajamento dos cidadãos no desenvolvimento urbano, o direito à participação na conceção, gestão e ''usufruto'' da vida na cidade não é universalmente garantido a todos os Moçambicanos. Isto ocorre sobretudo porque os mecanismos locais de participação tendem a ser estratificados com base em assimetrias territoriais. Desta forma, como resultado da não participação cidadã, é evidente a existência de descontentamento social e de um potencial conflito de interesses que pode resultar num total descrédito dos cidadãos em relação as instituições democráticas e aos seus incumbentes. Apesar da narrativa criada à volta do orçamento participativo em Moçambique estar ''sempre'' associada ao desenvolvimento económico, social, e político, na prática, apresenta evidências pouco significativas da sua ligação ao desenvolvimento urbano e ao direito à cidade. Por outro lado, constatam-se evidências da sua orientação para a modernização dos procedimentos internos da administração pública, aperfeiçoamento e reforço da partilha de poder pelos atores locais. Por conseguinte, o envolvimento dos cidadãos nas questões locais é restrito ao âmbito de uma consulta pública frágil, que legitima os planos e as atividades dos governos locais. Deste modo, a participação pública em Moçambique está longe de garantir plenos direitos aos cidadãos.

Palavras-chave: Direito à cidade; descentralização; orçamento participativo; desenvolvimento urbano; Moçambique