Teses Defendidas

States in denial: Anti-Black Racism, Law and Policy in Brazil and Peru

Luana Xavier Pinto Coelho

Data de Defesa
23 de Outubro de 2023
Programa de Doutoramento
Human Rights in Contemporary Societies
Orientação
Silvia Rodríguez Maeso e Thula Pires
Resumo
Esta tese teve como objetivo desvendar os regimes de negação do racismo persistentes no Brasil e no Peru. Ao olhar para a institucionalidade, examino as várias maneiras pelas quais o racismo pode ser simultaneamente reconhecido no discurso oficial e supostamente combatido por meio de políticas e legislações, e perpetuado por meio de estruturas, práticas, performances e produção de conhecimento. O racismo, historicamente enraizado no colonialismo e na escravização racial, é um processo de longo prazo que criou raças como diferenças ontológicas, reificadas pela prática institucional, normalização e regulamentação. Parto do pressuposto de que o legado da escravização racial ainda funciona para traçar os limites da humanidade, colocando a subjetividade negra como precária dentro das instituições do Estado Racial. Portanto, a análise está atenta ao discurso oficial - o controle da linguagem, o vocabulário e/ou comportamentos permitidos e proibidos - em contraste com as reivindicações sociais dos movimentos sociais negros e as experiências de pessoas negras na institucionalidade do Estado. Dois enfoques orientaram os objetivos e as questões da pesquisa: i) A regra racial e a busca por justiça no Judiciário; e ii) Reivindicações nas brechas: (im)possibilidades de luta antirracista dentro do Estado Racial. A primeira abordagem centra-se no direito e na luta contra o racismo, combinando os métodos de investigação de storytelling com a análise crítica do discurso dos documentos disponíveis em dois processos judiciais. No Peru, investiguei o caso de Azucena Algendones, única condenação pelo crime de discriminação racial. No Brasil, analisei a ação coletiva constitucional ADPF 635 PSB contra o Estado do Rio de Janeiro, conhecida como ADPF das favelas, sendo um caso paradigmático em que os peticionários colocaram o genocídio negro e o racismo institucional no centro da denúncia. Os estudos de caso mostraram o papel do regime jurídico na garantia da ordem racial. Na segunda abordagem, relaciono o Brasil e o Peru com debates mais amplos sobre racismo e antirracismo, mais especificamente, com foco em políticas públicas e debates jurídicos desenvolvidos tanto para garantir direitos específicos aos povos negros, quanto para combater o racismo. A análise incluiu processos de formulação e implementação de políticas pela Diretoria de Políticas para a População Afro-Peruana, DAF, no Ministério da Cultura do Peru (2009-2020); e as políticas desenvolvidas no âmbito da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, SEPPIR (2003-2016) no Brasil. A análise das narrativas e do discurso oficial dos países incluiu uma abordagem multiescalar, com um estudo de caso do sistema regional de direitos humanos da Organização dos Estados Americanos, a fim de examinar o papel do Peru e do Brasil nos debates para a construção da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e a Intolerância Conexa (2005-2013). A análise de entrevistas em profundidade com diversos participantes desses processos, aliada à análise crítica de documentos, políticas e legislações permitem compreender como o Estado Racial se adapta a diferentes reivindicações de direitos sem necessariamente alterar sua estrutura. As diversas fontes trazidas para a investigação revelaram como o controle ideológico das instituições, a constante performance da raça, o funcionamento do pacto narcísico branco e, principalmente, a negação da raça, tudo isso sustenta a perpetuação do racismo.

Palavras-chave: racism anti-negro; antirracismo; direitos; Estado Racial; legado da escravização racial