Teses Defendidas
Decolonizing Liberation, De-Patriarchalizing the Nation - Kurdish Women's Struggle as the Keystone of the Radical Democracy Project of Democratic Modernity
2 de Maio de 2022
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Maria Paula Meneses
O Movimento de Libertação Curdo (MLC) têm sido abordado principalmente em termos de nacionalismo, conflito étnico, separatismo, terrorismo e, desde os anos 90 com a mudança ideológica do MLC, de um movimento de libertação nacional que luta por um Estado Curdo independente, por uma democracia radical pluralista no quadro dos movimentos de justiça social global. Eu defendo nesta tese que tanto a micro-análise baseada na construção do estado-nação, e a macro-análise sobre movimentos globais contrahegemónicos, falham na abordagem critica, ao manter as meta-narrativas universalistas e o Orientalismo. Estas são análises teóricas, produzidas no Norte Global e a partir de referentes teóricos centrados no Ocidente, acabam por dissolver os processos históricos que têm lugar em extensas zonas de contacto de regiões, com configurações materiais, sociais e políticas específicas. Em suma, acabam por ser representações ocidentais a partir dos discursos prescritivos da modernidade ocidental.
Estas análises também negligenciam os processos coloniais e imperiais que ainda marcam os projetos de construção das nações modernas. Convém não esquecer que as diferenças coloniais estão na base do projeto de formação da identidade nacional, que hoje está no cerne da questão curda na Turquia. Igualmente, ao omitirem o colonialismo na sua análise histórica, estas perspetivas silenciam e tornam impensável outras alternativas, provenientes de tradições, práticas e conhecimentos de longa data de povos marginalizados e subalternizados que resistiram e sobreviveram ao colonialismo. Esta tese aborda a Luta de Libertação das Mulheres Curdas (LLMC) como a encarnação destas alternativas históricas, e como a principal força motora decolonial das premissas ideológicas do MLC. O MLC, nos dias de hoje defende a democracia radical, libertação de género e uma sociedade anti-capitalista e ecológica, proposta desenvolvida a partir da Modernidade Democrática, Confederalismo Democrático e Nação Democrática, que desafiam as premissas básicas ocidentais, patriarcais, capitalistas e coloniais da modernidade ocidental.
A fim de ampliar as análises para além dos quadros teóricos acríticos, ocidentais e estadocêntricos, por um lado, este trabalho pretende revelar a ligação entre colonialismo, modernidade e produção de conhecimento, que é constitutivo das configurações políticas e culturais hegemónicas estabelecendo as base do sistema mundial contemporâneo. Por outro, aspira instigar as análises a pensar a partir dos silêncios e ausências produzidos pelo pensamento hegemónico, de modo a centrar a criação de alternativas emancipatórias nas epistemologias e saberes que derivam das resistências de comunidades que lutam por uma transformação social radical e, especialmente, das mulheres. Para tanto, a base teórica do presente trabalho coloca em diálogo perspetivas interdisciplinares de geografia política, críticas pós-coloniais, Orientalismo, Epistemologias do Sul, teorias feministas e pensamento decolonial. Além disso, este trabalho realiza uma análise histórica crítica, para revelar a origem da questão curda na construção do projeto de estado-nação moderno como parte do colonialismo otomano e também para mostrar a continuidade da mentalidade imperial na configuração da República Turca. Esta análise dá continuidade à análise do inicio do MMC como parte das lutas socialistas e antiimperialistas, equipado com um discurso moderno equiparando autodeterminação com a construção do estado-nação, examinando a sua transformação na compreensão pluralista de comunidade, baseada num projeto emancipador ultrapassando os horizontes da democracia ocidental. Além disso, a LLMC e a Jineoloji, ciência das mulheres livres, construída nas experiências históricas e nos conhecimentos silenciados e marginalizados, das mulheres é abordado como o ímpeto por trás dessa transformação.
Histórias de vida e contra-mapeamento são usadas como metodologias nesta tese para reescrever a história desde o ponto de vista das mulheres Curdas e introduzir relatos alternativos de colonialismo, opressão e dominação além do historicismo universal e das narrativas da "alta política", como também, para fornecer às mulheres, meios para contar as suas versões não autorizadas e silenciadas da história. Estas servem também para narrar contra-topografias transfronteiriças de resistência e solidariedade por meio de relatos interligados do outro lado da história colonial. Estas histórias de vida não apenas, colocam em primeiro plano as formas de interseção de opressão étnica, racial, de classe, género, religiosa e cultural, mas também, as experiências das mulheres que expandiram os significados de território, identidade, auto-determinação, emancipação e autonomia. Assim sendo, as histórias de vida das mulheres Curdas constroem diálogos entre histórias locais e globais, revelam práxis híbridas contra-hegemónicas, e gramáticas que multiplicam as alternativas presentes e futuras e expandem os horizontes da imaginação social e política para alcançar a justiça social global e a emancipação.
Palavras Chave: Luta de Libertação das Mulheres Curdas, Modernidade Democrática, Epistemologias do Sul, histórias de vida, sociologia das ausências/emergências, zonas de contacto, democracia sem Estado
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
Estas análises também negligenciam os processos coloniais e imperiais que ainda marcam os projetos de construção das nações modernas. Convém não esquecer que as diferenças coloniais estão na base do projeto de formação da identidade nacional, que hoje está no cerne da questão curda na Turquia. Igualmente, ao omitirem o colonialismo na sua análise histórica, estas perspetivas silenciam e tornam impensável outras alternativas, provenientes de tradições, práticas e conhecimentos de longa data de povos marginalizados e subalternizados que resistiram e sobreviveram ao colonialismo. Esta tese aborda a Luta de Libertação das Mulheres Curdas (LLMC) como a encarnação destas alternativas históricas, e como a principal força motora decolonial das premissas ideológicas do MLC. O MLC, nos dias de hoje defende a democracia radical, libertação de género e uma sociedade anti-capitalista e ecológica, proposta desenvolvida a partir da Modernidade Democrática, Confederalismo Democrático e Nação Democrática, que desafiam as premissas básicas ocidentais, patriarcais, capitalistas e coloniais da modernidade ocidental.
A fim de ampliar as análises para além dos quadros teóricos acríticos, ocidentais e estadocêntricos, por um lado, este trabalho pretende revelar a ligação entre colonialismo, modernidade e produção de conhecimento, que é constitutivo das configurações políticas e culturais hegemónicas estabelecendo as base do sistema mundial contemporâneo. Por outro, aspira instigar as análises a pensar a partir dos silêncios e ausências produzidos pelo pensamento hegemónico, de modo a centrar a criação de alternativas emancipatórias nas epistemologias e saberes que derivam das resistências de comunidades que lutam por uma transformação social radical e, especialmente, das mulheres. Para tanto, a base teórica do presente trabalho coloca em diálogo perspetivas interdisciplinares de geografia política, críticas pós-coloniais, Orientalismo, Epistemologias do Sul, teorias feministas e pensamento decolonial. Além disso, este trabalho realiza uma análise histórica crítica, para revelar a origem da questão curda na construção do projeto de estado-nação moderno como parte do colonialismo otomano e também para mostrar a continuidade da mentalidade imperial na configuração da República Turca. Esta análise dá continuidade à análise do inicio do MMC como parte das lutas socialistas e antiimperialistas, equipado com um discurso moderno equiparando autodeterminação com a construção do estado-nação, examinando a sua transformação na compreensão pluralista de comunidade, baseada num projeto emancipador ultrapassando os horizontes da democracia ocidental. Além disso, a LLMC e a Jineoloji, ciência das mulheres livres, construída nas experiências históricas e nos conhecimentos silenciados e marginalizados, das mulheres é abordado como o ímpeto por trás dessa transformação.
Histórias de vida e contra-mapeamento são usadas como metodologias nesta tese para reescrever a história desde o ponto de vista das mulheres Curdas e introduzir relatos alternativos de colonialismo, opressão e dominação além do historicismo universal e das narrativas da "alta política", como também, para fornecer às mulheres, meios para contar as suas versões não autorizadas e silenciadas da história. Estas servem também para narrar contra-topografias transfronteiriças de resistência e solidariedade por meio de relatos interligados do outro lado da história colonial. Estas histórias de vida não apenas, colocam em primeiro plano as formas de interseção de opressão étnica, racial, de classe, género, religiosa e cultural, mas também, as experiências das mulheres que expandiram os significados de território, identidade, auto-determinação, emancipação e autonomia. Assim sendo, as histórias de vida das mulheres Curdas constroem diálogos entre histórias locais e globais, revelam práxis híbridas contra-hegemónicas, e gramáticas que multiplicam as alternativas presentes e futuras e expandem os horizontes da imaginação social e política para alcançar a justiça social global e a emancipação.
Palavras Chave: Luta de Libertação das Mulheres Curdas, Modernidade Democrática, Epistemologias do Sul, histórias de vida, sociologia das ausências/emergências, zonas de contacto, democracia sem Estado